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O KERIGMA DE CRISTO EM 1PEDRO 3:18-22

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Temos diante de nós um dos textos mais difíceis do novo testamento e também de toda bíblia. Existem varias interpretações deste texto, que desde os primórdios da igreja; já no tempo dos pais da igreja se debatia e discutia a respeito do que, afinal Pedro estava escrevendo e queria dizer.
Parece um texto sem nexo, fora de ordem temática e cronológica. O problema é que, todos quando leem este texto fazem uma leitura absolutamente pretenciosa e já pre conceituada, ou seja, o leem já com um assunto definido em sua mente. Leem para dar base a um pensamento já estabelecido. Pensamento este que geralmente não é o que estava na cabeça do autor quando escreveu.
Uma das leituras pre conceituadas deste texto, é o conceito do Credo católico “Desceu aos infernus” .
Veremos que Pedro trata de três questões importantes: O sofrimento, a Morte (sepultamento) e a ressurreição de Jesus.
Não podemos perder de vista que Pedro está escrevendo para os crentes que estão sofrendo, na diáspora. Cristãos, espalhados, perseguidos, desterrados e espoliados por diversas regiões da Ásia Menor. A questão do sofrimento do salvos, dos justos é o grande tema desta carta.
Precisaremos fazer algumas perguntas a perícope da qual vamos analisar, que são de fundamental importância para o entendimento do texto:
Quando e onde Jesus pregou aos espíritos em prisão?
Quem são esses espíritos em prisão?
Porque estão presos?
Quem foi desobediente nos dias de Noé?

ANÁLISE DO TEXTO

18 Pois Cristo  morreu  pelos  pecados  de  uma  vez  por  todas,  o justo  pelos  injustos,  para  levar  vocês  até  Deus.  Ele foi morto  no  corpo,  mas  vivificado  pelo  Espírito.
Por Incrível que pareça, os grandes problemas deste texto começam pela tradução equivocada de uma única palavra neste verso: “morreu”. A palavra usada por Pedro é [1]επαθεη que é a 3 pessoa do singular aoristo 2 do indicativo de πασχω = ser afetado por algo, sofrer, suportar¹. O verbo morrer, é αποθνησκω como em 1Co 15:3 (Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras;)
            Em nenhum lugar da carta, Pedro usar o verbo morrer (αποθνησκω). O verbo sofrer aparece 11 vezes  nesta  epístola  e  parece  ser  uma  expressão favorita do autor².
A NVI trás a tradução correta do texto.
Todo esse argumento não é para diminuir ou negar a morte vicária de Cristo, mas sim para um esclarecimento de que sofrer esta de acordo com o contexto do texto, e com a carta em geral. Pois a passagem anterior (13-17), Pedro está falando a respeito do sofrimento que os cristãos estavam passando, seja pelas mais diversas causas; disse ele,  É melhor sofrer por fazer o bem, se for da vontade de Deus, do que por fazer o mal.
Outro problema deste verso é a parte “morto no corpo (carne), mas vivificado pelo Espírito. ” Na opinião dos estudiosos, a palavra corpo (σαρξ) significa a vida de Jesus na terra, de modo que a palavra espírito se refere à sua vida ressurreta. O termo espírito, portanto, está relacionado à esfera espiritual e a condição plena da existência de Cristo depois da ressurreição.
Ao mesmo tempo, não se pode excluir a possibilidade de uma referência ao Espírito Santo. A ressurreição de  Jesus  é  obra  do  Deus  Triúno,  pois  o  próprio  Jesus declarou que possuía o poder de entregar sua vida e também reavê-la (Jo  10.18;  ver  também  Jo  2.19-21;  11.25).  Paulo ensina  que  o  Pai ressuscitou Jesus  dos  mortos  (Rm 6.4;  G1  1.1;  Ef  1.20;  ver também At  2.32).  E, em Romanos  8.11,  ele  menciona que  o  Espírito  Santo estava envolvido na ressurreição  de  Cristo³.
Por fim, [2]as formas verbais morto e  vivificado estão na voz passiva.  Por isso,  podemos  inferir  que  um  agente  (alguém  ou  alguma coisa) foi responsável pela morte de Cristo e o vivificou. No caso do primeiro verbo,  Pedro  não  indica o  agente,  mas para o  segundo  ele indica a pessoa do Espírito Santo.
Em resumo, no verso 18, Pedro está fazendo uma introdução do assunto a ser tratado nos próximos versos. O que ele está dizendo é: “Irmãos, assim como vocês sofrem, Cristo também sofreu; sua vida foi uma vida de sofrimento, e que resultou até em sua morte, ou seja, o sofrimento é compatível sim com o justo. Porem seu sofrimento, resultou perdão de pecados e reconciliação com Deus; de uma vez por todas, que morreu em seu próprio corpo e foi ressuscitado no (ou pelo) espirito; Portanto o sofrimento de vocês é passageiro, e pelo sofrimento de Cristo vocês alcançaram também a ressurreição”.
Não podemos perder de vista que Pedro fala do sofrimento, da morte e ressurreição de Jesus, identificando aqueles cristãos que estão sofrendo, com o Cristo e seu sofrimento. Nos próximos versos ele fala das consequências desse sofrimento vicário para o salvo e para o reino das trevas.

  
19  Por  intermédio  do  qual  ele  também  foi  e  pregou  aos espíritos  na  prisão,  20a  que  desobedeceram  há  muito  tempo atrás,  quando  Deus  esperou  pacientemente  nos  dias  de  Noé enquanto  a  arca  estava  sendo  construída.

Antes porem da exposição do texto, apresento algumas interpretações históricas. Há muitas interpretações para esse texto. Eis algumas delas, apresentadas em ordem cronológica.

a. Clemente de Alexandria, por volta do ano 200 d.C., ensinava que Cristo foi ao inferno em seu espírito proclamar a mensagem da salvação às almas dos pecadores que estavam presas lá desde o dilúvio (Stromateis 6.6).
b. Agostinho, por volta de 400 d.C., disse que o Cristo preexistente proclamou a salvação através de Noé ao povo que viveu antes do dilúvio (Epistolae 164).
c. Na última metade do século 16, o cardeal Belarmino introduziu a idéia que tem sido afirmada por muitos católicos romanos: em espírito, Cristo foi libertar as almas dos justos que se arrependeram antes do dilúvio e que tinham ficado no limbo, ou seja, no lugar entre o céu e o inferno onde, de acordo com Belarmino, ficavam as almas dos santos do Antigo Testamento (De Controversiis 2.4,13).
d. Uma interpretação promulgada por Friedrich Spitta na última década do século 18 é a seguinte: Depois de sua morte e antes de sua ressurreição, Cristo pregou aos anjos caídos, também conhecidos como “filhos de Deus” que, no tempo de Noé, haviam se casado com as
“filhas dos homens” (Gn 6.2; 2Pe 2.4; Jd 6).
e. Comentaristas contemporâneos ensinam que o Cristo ressurreto, quando ascendeu aos céus, proclamou aos espíritos em prisão sua vitória sobre a morte.
f. Eis agora o comentário de João Augusto da Silveira sobre o texto

Passemos a considerar, agora, os versos de 1 Pedro 3:19-20, e vejamos se os espíritos em prisão, que nos fala o apóstolo, eram os espíritos dos que, nas águas do dilúvio, pereceram em virtude da rejeição da mensagem de Noé, atinente ao dilúvio, ou se foi os próprios homens com quem O meu Espírito não contenderá [lutará ou pelejará] para sempre (Gn 6:3). Este texto mostra que o Espírito de Deus entrou a contender com aquela geração, dando-lhe um tempo de graça para que se arrependessem, tempo esse que foi de cento e vinte longos anos (Gn 6:3).
Comparando Gênesis 6:3 com 1 Pedro 1:9-11 fica esclarecido que o Espírito de Cristo estava nos profetas anunciando a salvação das almas (v.9), o que Noé, profeta daquela geração – pregoeiro da justiça (2 Pd 2:5), deu pelo Espírito de Cristo a mensagem aos espíritos em prisão – homens presos em delitos e pecados -, tal como Jesus encontrou o próprio povo judeu e encontrará o mundo descuidado em sua segunda vinda (Mt 24:36-39). Compare ainda as passagens seguintes, com as que acima já foram citadas (Hb 1:1; 2 Co 5:18-20). Foi isto que o Espírito de Deus fez por meio de Noé, e continua fazendo com os “espíritos em prisão” [homens presos em delitos e pecados] que continuam, como os daquela geração, rejeitando o doce convite da mensagem da graça ao mundo.


                Objeções

O primeiro ponto de vista é o de Clemente de Alexandria. Ele ensinava que Cristo desceu ao inferno em espírito para proclamar a mensagem da salvação às almas lá aprisionadas desde o dilúvio. Podemos apresentar duas objeções básicas contra a interpretação de Clemente: 1) as Escrituras nada dizem sobre o aprisionamento de almas condenadas por Deus; e 2) a doutrina de Agostinho, de que não há conversão após a morte, repudia o ponto de vista de Clemente.

Em segundo lugar, Agostinho diz que o Cristo preexistente proclamou a salvação através de Noé às pessoas que viveram antes do dilúvio. Ninguém questiona o fato de que o Espírito de Cristo estava atuando no tempo entre a Queda de Adão em pecado e o nascimento de Jesus. A objeção ao ponto de vista de Agostinho está no fato de que ele se desvia das palavras de 1 Pedro 3.19. Agostinho fala do Cristo pré-encarnado, e não do Cristo que foi “morto, sim, na carne, mas vivificado pelo espírito”. Ignorando também o conceito bíblico em Rm. 1.18-32, onde Paulo esclarece a condição humana em relação a revelação universal a respeito de Deus, através da criação de que tais homens por si só já são indesculpáveis diante de Deus. Resolvendo assim a questão do conhecimento a respeito, que o homem tem do próprio Deus. Ou seja, parece haver uma necessidade no ponto de Agostinho de isentar Deus de qualquer responsabilidade com relação a ignorância do homem. No texto de romanos citado acima, Paulo resolve esse problema mostrando que não há inocentes diante de Deus. E longe disto, está Pedro tentado fazer isso neste texto. Não está tratando deste assunto em nenhum lugar sequer da sua carta.  
Pedro também não faz referência a pessoas, e sim a espíritos em prisão. E a ideia de espíritos aqui não pode se referir a pessoas, pois vai contradizer o que diz o verso 22 que identifica esses espíritos como sendo anjos, e as autoridades, e as potestades. Se afirmamos que ouve uma proclamação ao espírito mesmo que aos contemporâneos vivos do tempo de Noé, estamos afirmando uma dicotomia, algo que vai contra aquilo que a bíblia afirma ser a constituição humana.

Em terceiro lugar, Belarmino ensinava que, mesmo que o corpo de Cristo tenha morrido na cruz, sua alma permaneceu viva. Assim, em seu espírito, Cristo foi libertar as almas dos justos que se arrependeram antes do dilúvio e encontravam-se no limbo. Esta afirmação é uma fraude exegética e hermenêutica, pois não há nenhuma base bíblica para tal entendimento. É sim fruto de tradicionalismo religioso viciado. Pergunta: onde fica tal limbo? Sem mais.

Há, ainda, a interpretação de Spitta. Ele dizia que, depois de sua morte e antes de sua ressurreição, Cristo havia pregado para anjos caídos que, durante a época de Noé, haviam se casado com as “filhas dos homens”, mas há objeções sérias a essa ideia. Ao responder aos saduceus que lhe perguntaram sobre a ressurreição, Jesus afirmou que os anjos não se casam nem se dão em casamento (Mt 22.30). Temos dificuldade em compreender como os anjos caídos, que são espíritos, podem ter relações sexuais com mulheres. Pergunta: Pregado o que? O evangelho de salvação, para seres incapazes de arrependimento e já condenado por Deus? E outra. E quanto aos outros anjos caídos que não haviam se casados com as filhas dos homens? É uma mistura de alhos com bugalhos que não faz o menor sentido. É impossível a luz do texto de Pedro entender dessa maneira. E mais impossível ainda é pensar que isto, que não tem o menor sentido estivesse na cabeça de Pedro em sua carta, que não trata de nada disso.

Por fim, os comentaristas mais recentes ensinam que o Cristo ressurreto, durante sua ascensão aos céus, proclamou aos espíritos em prisão sua vitória sobre a morte. O Cristo exaltado, proclamou seu triunfo sobre todas as hostes e potestades (Ef 6.12; Cl 2.15). A ressureição de Cristo trouxe como resultado salvação ao homem caído e humilhação e exposição de satanás e seus demonios. E também a conferencia a Cristo de todo o poder e autoridade, quer seja sobre homens (e isso inclui os Césares romanos), anjos, demonios e domínio (Império romano). Essa interpretação tem encontrado reações favoráveis nos meios protestantes, e está em harmonia com o ensinamento da passagem de Pedro e com o resto das Escrituras.


Voltemos agora a exposição própria do texto

19  Por  intermédio  do  qual  ele  também  foi  e  pregou  aos espíritos  na  prisão,  20a  que  desobedeceram  há  muito  tempo atrás,  quando  Deus  esperou  pacientemente  nos  dias  de  Noé enquanto  a  arca  estava  sendo  construída.


Do qual”. A palavra que vem antes de “do qual” é o termo espírito. Pedro está dando continuidade ao seu assunto anterior. O que Pedro esta dizendo é que, “Através da ação do Espírito de Deus,  depois de sua ressurreição, Jesus Cristo “foi e pregou aos espíritos em prisão”.
A declaração “foi e pregou” significa que  Jesus  desceu  ao  inferno? Não, pois faltam as evidências para essa suposição. Em nenhum lugar as  Escrituras  ensinam  que,  depois  de  sua ressurreição  e  antes de sua ascensão, Cristo desceu ao inferno. Além do mais, temos dificuldade  em  aceitar  a explicação  de  que  Cristo,  em  seu  espírito,  foi pregar aos contemporâneos de Noé. Mas, antes de continuarmos com essa questão, precisamos  fazer a  seguinte pergunta:
O que se quer dizer com o termo pregou?  O verbo encontra-se sozinho, de modo que não somos capazes de determinar o conteúdo da pregação. A palavra usada para pregar, no sentido de anuncio do evangelho é ευαγγελιζω. A palavra usada por Pedro é εκηρυξην, que vem do verbo κηρυσσω que significa proclamar. Portanto o verbo pregou significa que Cristo proclamou vitória sobre seus adversários. “Assim, podemos supor com razão, que é a vitória de Cristo sobre os seus adversários que é enfatizada em  3.19,  e  não  a  conversão  ou evangelização  de  espíritos  desobedientes”. “Aos espíritos na prisão”. Os espíritos são de seres humanos, anjos caídos ou a ambos?
Meu entendimento é que esses “espíritos em prisão” não poderiam ser  espíritos  humanos.  Isso porque não há salvação depois da morte. E ainda que fosse, estaríamos tratando de uma dicotomia da natureza humana. Se ainda assim fosse, deveríamos perguntar: esses espíritos (humanos) estaria presos onde, ou em que prisão? Logo, esses espíritos não pode ser de pessoas, ou seja, o termo não se refere a pessoas em si. Pois se fosse, teríamos mais dificuldade ainda em responder, tais espíritos (pessoas) estariam em qual prisão?
Então, essa proclamação foi feita aos anjos caídos.  Sendo assim, não  foi  uma  proclamação para redenção,  uma vez que não há salvação para anjos caídos.  O termo traduzido por “pregou” significa, simplesmente, “anunciou como arauto, proclamou”. Logo, essa proclamação não se deu no período entre a morte e a ressurreição de Cristo, pois em nenhum lugar as Escrituras nos informam que Jesus desceu ao inferno.[3] Pedro escreve que Deus enviou anjos que pecaram “a abismos das trevas” (2Pe 2.4; comparar com Jd 6).  Coincidentemente, a Bíblia não menciona em lugar nenhum que as almas de seres humanos são mantidas em prisão.  
Pedro diz que os espíritos são aqueles (e não daqueles) que “noutro tempo foram desobedientes” (v.  20a).  Ele  escreve:  “Aos  espíritos... os quais noutro tempo foram desobedientes”. Ele não diz “os espíritos daqueles que foram desobedientes”.
Por fim, nenhuma doutrina escriturística ensina que o ser humano tem uma segunda chance de se arrepender depois da morte (Hb 9.27).  Quando se fecha a cortina entre o tempo e a eternidade, o destino do ser humano está selado e o período da graça e do arrependimento chegou ao fim.
Consequentemente, interpreto a expressão aos espíritos na prisão como uma referência a seres sobrenaturais, e não à alma de seres humanos.
“Dias de Noé”. Pedro coloca um marcador de tempo, a que espíritos se referem à proclamação de vitória de Cristo? Desde o tempo de Adão até o dia em que Noé entrou na arca, Deus exercitou sua paciência. Os contemporâneos de Noé eram claramente perversos e, em sua rebelião contra Deus, serviam de agentes para espíritos demoníacos. Que no meu entendimento, tais espíritos eram quem estavam por trás da corrupção e perversão humana nos dias de Noé, assim como nos dias da igreja do primeiro século, os dias dos leitores de Pedro. Ele traça um paralelo entre a geração de Noé e a de seus leitores, sendo que os dois grupos (a geração daqueles dos dia de Noé como a dos primeiro século) estavam sobre a mesma ação dos mesmos espíritos. Sendo, portanto, Cristo superior a eles, assim como foi nos dias de Noé.
A prisão e desobediência destes espíritos, estão claramente expostas em toda a escritura.

20b na qual poucas ( isto é, oito ) almas se salvaram pela água,  que também, como uma verdadeira figura, agora vos salva, batismo, não do despojamento da imundícia da carne, mas da indagação de uma boa consciência para com Deus, pela ressurreição de Jesus Cristo;

                Pedro aqui trás uma separação entre os contemporâneos de Noé e o próprio Noé e sua família. A ideia é criar uma ponte entre o fato de Noé ter suportado as aflições do seu tempo, e os destinatários de Pedro terem que suportar as suas. As semelhanças continuam pelo fato de que os dois grupos (Noé e sua família e os destinatários de Pedro) foram separados dos ímpios pelas águas; Noé pelas águas do diluvio, os cristão do primeiro século, pelas águas do batismo.
Pedro evoca a ideia também aqui da salvação pela fé. Seja no caso de Noé ou no caso da igreja do primeiro século. Nos dias de Noé, eles foram salvos não pela remoção da imundícia da carne, mas da indagação de uma boa consciência para com Deus, por meio da ressurreição de Jesus Cristo. A salvação de Noé e sua família passa pelo fato da fé em Deus de que iria julgar o mundo pelas aguas e salvar aqueles que entrassem na arca. Do mesmo modo os destinatários da carta. Cristo haverá de julgar o mundo e salvar aquele que creem nele. A arca estava para salvação de Noé e sua família, assim como Cristo estava para os crentes do primeiro século. E nos dois casos o elemento principal é a fé. 
Pedro também esta enfatizando o fato de que os comtemporâneos de Noé eram absolutamente controlados por espíritos imundos, assim como os perseguidores da igreja na dispersão, mas que Cristo era superior a eles. E que assim como sujeitou e proclamou vitória sobre aqueles espirito que operavam nos dias de Noé, ele também prevalecia sobre os que operavam sobre os que perseguiam a igreja.
                  O texto pressupõe que há uma semelhança entre o dilúvio e o batismo, ou seja, assim como as águas do dilúvio limparam a terra da perversidade humana, assim também a água do batismo indica a purificação do ser humano dos pecados. Assim como o dilúvio separou Noé e sua família do mundo perverso de sua época, assim também o batismo separa os crentes do mundo perverso de nossos tempos. O batismo, portanto, assemelha-se ao dilúvio[4].
                No fim, ele se volta para o fato do que possibilita esta certeza de vitória de Cristo é a sua ressurreição. Uma esperança para a igreja da diáspora, que o Cristo sofredor, mas vitorioso os ressuscitaria e os salvaria assim como Noé e sua família.

22 o qual está à destra de Deus, tendo subido ao céu, havendo-se-lhe sujeitado os anjos, e as autoridades, e as potências.

Pedro termina esta parte sobre o sofrimento, dizendo que o mesmo Cristo antes, que sofreu agora esta a destra de Deus vitorioso e glorioso. Essa é uma afirmação de proclamação de vitória (kerigma). Leva-nos a pensar que este texto poderia fazer parte do repertorio dos hinos litúrgicos da igreja primitiva (Cl 1.15-20, Fl. 2.6-11, 1Tm 3.16) o que não posso afirmar.
O fato é que Pedro parece deixar implícito que, quando Cristo subiu aos céus, ele proclamou a vitória sobre as forças espirituais inimigas. Os inimigos espirituais de Cristo são Satanás e seus demônios. Como Paulo diz, Satanás é “o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência” (Ef 2.2;  ver  6.12). Uma vez que desarmou as forças do mal, Cristo as derrotou e, então, proclamou sua vitória sobre elas (Cl 2.15)[5].

CONCLUSÃO

Pedro afirma que cristo sofreu, morreu, ressuscitou e foi glorificado. E que isso resultou em salvação para os seus leitores e julgamento e declaração de vitória sobre os ímpios, satanás e seus demônios.
Que assim como cristo sofreu, não tinha que ser estranho para os cristãos, o fato de também sofrerem. Mas que assim como ele ressuscitara e vencera; seus discípulos também ressuscitariam e venceriam em cristo.
Que embora sofressem perseguição de autoridades e potestades, Cristo eram superior a eles e os havia vencidos pela sua morte na cruz, e que eles tinham a garantia de sua permanência em Cristo através do batismo, no qual os compelia a um compromisso de uma boa consciência diante de Deus.   


Toda honra, gloria, louvor e domínio seja dada ao Cristo ressurreto. Amem!


Por kennedy de Mattos Santos




[1] Novo Testamento Interlinear, Pág. 866 – Léxico grego analítico, Harold K. Moulton, Pág. 159, 323

² Metzger,  Textual Commentary, p. 692. Estas são as referências para o verbo sofrer.
2.19,20, 21,23;  3.14,17,  [18,  variação  no  texto];  4.1  [duas  vezes],  15,19;  5.10

[3] Hernandes Dias Lopes – Comentário Expositivo de 1 Pedro. Pg 130, 131
[4]  Ver Leonhard Goppelt,  TDNT,vol 8, p. 253.
[5] Simon Kistemaker, Comentario do N.T Epistolas de Pedro e Judas, p.206

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