
Talvez possa parecer à primeira vista que se trata de
indagar se Israel não foi induzido ao tropeço para cair e propiciar a salvação
dos gentios, em raciocínio, na melhor das hipóteses, irreverente, conforme 3,
5-6 e 6, 1-2. Ou então, talvez com menos dolo, se pudesse deduzir dessa
passagem que a salvação dos gentios veio em consequência da queda de Israel; ou
então em outras palavras, que a salvação das pessoas de fora da Igreja resulta
do fracasso da Igreja.
Ora, tais interpretações estariam em desacordo com o ensino
bíblico geral e os evangelhos em particular. (ver João 3, 16 ss e João 5, 24).
Em romanos 10.11-13, o princípio de conceito de justiça de Deus do próprio
Paulo é que não há distinção de pessoas, todavia a salvação vem pelo fato de
crer e invocar o seu nome.
Israel não foi induzido ao tropeço, nem levado à queda. A
missão dada à Nação Eleita foi testificar a graça divina; preparar o caminho
para a vinda do Senhor em quem seriam (foram e são) benditas todas as nações da
terra.
Os planos de Deus não são frustrados pela conduta humana (2,
11; Deut. 10, 17; Atos 10, 34 e seguintes; Gal. 2, 2); a missão de “nação
sacerdotal” teria de cumprir-se e foi cumprida quer fosse com o coração dócil e
leal de um Moisés ou um João (o Evangelista) e tantos outros, ou fosse com a
dura cerviz de um Jonas, ou de um recalcitrante Saulo.
Israel foi de dura cerviz: Jacó lutou com o anjo do Senhor;
o povo do deserto quis voltar às panelas de carne do Egito e se serviu do
primeiro pretexto que lhes pareceu razoável para fundir o seu bezerro de ouro;
a nação constituída preferiu um rei vistoso à liderança do Deus “invisível” de
Samuel; adoraram nos “Altos”, aos astros visíveis e abandonaram o Altíssimo que
talvez lhes parecesse por demais remoto e, pior do que isto, imaterial.
Perseguiram os profetas e se encastelaram em sua própria
retidão e justiça; decoraram a lei, viveram sua forma, sua letra, porém não
praticaram seu espírito; alardeavam o cumprimento do primeiro grande mandamento
e prevaricavam no segundo, semelhante ao primeiro. Negaram ao Cristo a ponto de
chamarem o seu sangue sobre eles e sobre seus filhos.
Na história da rebeldia contra Deus, assim como em sua
culminância na crucificação, mesclaram-se sempre os reis, os governados e a
soldadesca; o povo, da plebe ao Sumo Sacerdote. Acaso essa infame culminância
de endurecimento, a rebeldia, seria restrita à responsabilidade daqueles que no
tempo histórico da crucificação se achavam em Jerusalém? Se assim fora, então a
ressurreição seria, também, só para as mulheres que encontraram o sepulcro
vazio ou, quando muito, do pugilo de pessoas que viveram os poucos dias que
mediaram entre a ressurreição e a ascenção.
Mas não é assim; a graça não tem data histórica, nem lugar
geográfico, nem raça, tribo ou nação e também não os tem a transgressão. O
mundo todo transgrediu — transgredi e transgredirá — ontem, hoje e sempre e
nele estão incluídos cada indivíduo.
Como? Por que?
Porque os que estão sem lei, (quando têm olhos para ver e
entendimento para compreender), percebem que Deus não opera segundo critérios
humanos e por acepção de pessoas; que Deus não se deixa levar por engodos, nem
promessas, nem sacrifícios, nem ritos, nem iniciação esotérica ou outra
qualquer; Deus não julga pelo louvor, ou pela devoção, ou pela liturgia; nem
por flagelação, ou renúncias ou obediência a alguma lei, ou seita, ou
denominação.
Deus julga e justifica em conformidade de sua eleição eterna
pelo que encontra no íntimo de cada pessoa. É pela rejeição divina à pretensa
retidão humana que os “gentios quiçá mais vazios em si mesmos, vislumbram mais
prontamente a Graça Divina. Ou seja, os judeus eram zelosos (10.2), os gentios
se quer tinham a revelação da justiça. Os judeus eram zelosos, porém sem
entendimento, mas tinham a revelação, porem estabeleceram a sua própria
justiça, e quando a plenitude da justiça se revelou (jesus) eles não se
sujeitaram a ela (10.3). Os gentios que não tinham a revelação sacerdotal
(porem apenas a parcial Sl 19), quando ouviram da plenitude da justiça de Deus,
estes creram.
Todavia a regra para salvação é estabelecida a todo homem,
aquele que crer em Jesus será salvo. E isso inclui também os judeus!
A relação da parte de Deus para o Israel como nação, é de
fidelidade a sua promessa feita aos patriarcas e não por uma singularidade
especial como povo. Afinal depois de quase dois milênio de dispersão, é
impossível que este povo siga ainda sua linhagem pura de sangue. Somente por
este fato já seria impossível ser considerado como judeus genuínos. Estão mais
para samaritanos (mistura de raças) do que para judeus puros.
Esperar que Israel como nação se converta como povo de Deus é
uma utopia, todavia Deus permanece fiel em suas promessas. Crer que judeus
alcancem a Cristo é uma realidade, mas Deus encerrou a todos debaixo da
desobediência, para que pudesse usar de misericórdia para com todos. O privilegio
da salvação é por meio de crer em Cristo, e não por nacionalidade.
1Pedro 2.9 Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real,
nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os
chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.
Não que Israel tenha perdido sua prerrogativa de nação
sacerdotal, mas sim que, a nação sacerdotal de Israel era também sombra daquela
que viria depois, a saber a igreja. Pois se antes a estrutura era material,
hoje o é espiritual. Antes a circuncisão era na carne hoje o é no espirito. Não
é o fato de que estava tudo errado e foram substituídos por Deus. Afinal o
próprio Jesus cumpriu todos os ritos daquele sistema até a última pascoa.
É o fato de que cumpriram sua missão e perdeu-se sua
validade, assim como a igreja neste modelo cumprira a sua e passará a outro
nível de sacerdócio. Israel era sacerdócio real para anunciar as grandezas
daquele que viria. A igreja é sacerdócio real para anunciar as grandezas
daquele que veio e virá.
Os sacerdotes da nova Jerusalém anunciarão as grandezas
daquele que é eternamente.
Apocalipse
20.6
Benditos e santos aqueles que tomam parte na Primeira
Ressurreição. Para eles a Segunda Morte não representa nenhum terror, porque
serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com Ele mil anos*.
NOTA*
A expressão mil anos, não é uma referência a tempo literal e sim a infinidade
de tempo que apenas Deus sabe quanto.
Bibliografia
Carta aos Romanos – Karl Barth Pg. 620-622
Biblia NVI
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