1Corintios 8.1-13
Introdução
Amados depois de falar, e durante
já a um bom tempo pregar, sobre a obra extraordinária de salvação a qual Deus
operou em nós. Agora gostaria de tratar a respeito de alguns aspectos de como
deve ser essa vida após o novo nascimento. Sou constantemente abordado
principalmente por uma geração de cristão mais jovens, com questões que começam
com: posso fazer isso, ou usar aquilo? Tal coisa é pecado?
Mas, antes mesmo de entramos
neste que é um tema extremamente delicado para a igreja, devo alerta-los que a
liberdade cristã, e uma vida de equilíbrio, é um assunto que diz respeito
exclusivamente àqueles que foram regenerados. Não se espera, que um indivíduo
ainda não salvo e que ainda continua morto em seus delitos e pecados, venha
viver desfrutando de sua liberdade, na comunhão dos santos sem ser danoso ao
corpo de Cristo. Sua natureza ainda é inclinada para o mal somente, sendo ainda
assim escravo do pecado e sem domínio próprio. O seu fruto portanto será sempre
carnal e não espiritual.
Uma das realidades da igreja hoje
é que temos duas gerações de cristãos na igreja. E as duas são importantes, as duas
ouviram o evangelho e creram em Cristo como Senhor e salvador das suas vidas. O
problema é que, cada geração vive experiências diferentes, e usam lentes
diferentes para enxergarem a vida cristã. O texto que lemos vemos Paulo lidando
com estes mesmos grupos na igreja de corinto. E ele chama a um grupo deste de
fracos e outro de fortes na fé.
Agora como solucionar isso?
Escolhemos por um grupo e decidimos como a igreja será a partir do ponto de
vista daquele grupo, e excluímos o outro? Logico que não. Então como viver a
vida cristã em comunhão com o meu irmão apesar de nossas diferenças?
Martyn L. Jones diz que: “Há
sempre dois extremos perigosos, no qual temos a tendência de cair, com relação
a nossa liberdade cristã: um deles, é um tipo de escrupulosidade mórbida, um
tipo de rigor extremo, onde o indivíduo está sempre se perguntando o que deve
fazer. Ficando assim sempre em grande dificuldade, criticando e condenando
outros. Tais pessoas estão sempre baixando regras e regulamentos de como os
outros devem portar-se, e estão sempre em dificuldades quanto a própria vida. O
outro tipo, é o que varre para o lado toda a regra, e mais ou menos afirma que
não importa o que você faz, agora que se tornou cristão.”[1]
Vamos usar o texto da carta aos
coríntios onde Paulo tratou deste mesmo problema, e aplicarmos a igreja hoje.
O CONTEXTO E O PROBLEMA
Todos nós temos com bastante
clareza, em nossa mente, que há certas coisas na vida cristã que são
absolutamente claras. Em qualquer lugar e época amar o próximo é uma coisa
certa. Todavia, também há coisas que são essencialmente erradas. Cometer
adultério, assassinar, e odiar as pessoas são práticas reprováveis em todo
tempo e lugar. E por que essas coisas são claras? Por que a bíblia é muito
clara com relação a essas coisas, ela não deixa dúvida alguma.[2]
Porém, há determinadas coisas que
a igreja fica imaginando: E certo? E errado? Pode fazer? Não pode fazer?
Devemos fazer? Não devemos fazer? É pecado, não é? Por exemplo: O crente pode
ir à praia? O crente pode jogar baralho ou dominó? Usar calça, usar bermuda,
usar brinco, fazer tatuagem, etc? Pode participar de shows? Ouvir música do
“mundo”? Essas questões, às vezes, nao estão tão claras na mente da maioria das
pessoas. O que fazer quando a bíblia não é clara com relação a alguns assuntos
(principalmente culturais)? Como viver nossa liberdade cristã com equilíbrio? [3]
Martyn L. Jones, tratando a
respeito deste assunto, os chama de indiferentes, exatamente por que a natureza
deles é indiferente a orientação bíblica, ou seja, a bíblia não os trata de
forma algumas, ou quando muito, sem muita clareza ou de forma muito
superficial, ele diz: “Primeiro, essas questões indiferentes não são centrais,
e não determinam se somos cristãos ou não. Segundo, essas questões indiferentes
não são a base pela qual recebemos alguém ou não ao rol de membros da igreja.
Terceiro, devemos lembrar que todos nós, mesmos em nossas melhores condições,
somo imperfeitos e quarto lugar, o nosso conhecimento da fé nunca é completo.”[4]
Na igreja de Corinto o problema
não era ir à praia, ou usar essa ou aquela roupa, fazer tatuagem, usar brinco
ou não. Esses não eram os problemas que a igreja de Corinto enfrentava.
Contudo, a igreja de Corinto enfrentava outro problema. Os crentes podiam comer
carne sacrificada aos ídolos? Para nós não há nenhum problema em comer carne.
Comer carne hoje não vai morder sua consciência, mas sim o seu bolso. Os
problemas que afligiam a igreja de Corinto eram diferentes dos nossos, mas os
princípios para resolvê-los são os mesmos para nós.[5]
O problema dos ídolos na cidade
de Corinto não era uma questão tão simples. A cidade toda estava infestada de
ídolos. A religião oficial daquele povo era a idolatria. Os crentes convertidos
em Corinto tinham vindo da idolatria. Eles eram adoradores de ídolos.[6]
Na época de Paulo, os sacrifícios
pagãos eram atos religiosos que envolviam a família. Animais eram levados ao
sacerdote, mortos e oferecidos aos deuses. Certas partes eram queimadas no
altar, outras partes eram tomadas pelo sacerdote, e o resto da refeição
consagrada era devolvido à família que havia oferecido o animal como
sacrifício. A família convidava amigos e parentes, entre os quais havia
cristãos, para uma festa. Outras vezes, a carne consagrada era vendida nos
mercados. Os cristãos então compravam a carne e consumiam-na em casa.[7]
Os membros da igreja coríntia se
viam diante da dúvida de saber se deveriam comer carne que tinha sido
consagrada a um ídolo num templo pagão. Estavam livres para ir a festas desse
tipo? Podiam se divertir em nome da liberdade cristã? (ver 6.12; 10.23)? A
consciência de alguns crentes estava despreocupada, enquanto a de outros estava
pesada (8.7). Um partido podia dizer ao outro partido: “Não exagere quanto à
justiça”, e o segundo partido podia replicar: “Não exagere quanto à
perversidade ” (Ec 7.16,17).[8]
Então, surgia uma dúvida na mente
deles: Podemos comer carne que os pagãos oferecem aos ídolos? É pecado fazer
isso? A pergunta deles era: Comer carne sacrificada aos ídolos é a mesma coisa
que adorar a um ídolo? A resposta de Paulo a essas questões lança luz no
assunto da nossa liberdade cristã. Para que essa liberdade não se torne
libertinagem e nem repressividade. Não podemos ser uma igreja libertina onde
tudo pode, e nem uma igreja repressiva, onde não pode nada e tudo é proibido.
FUNDAMENTOS DA LIBERDADE
1Corintios 8.1-3
O apostolo Paulo lança logo de
início o fundamento básico de como lidar com a minha liberdade e a liberdade do
meu irmão. São duas pedras fundamentais: conhecimento e amor. Precisa ser os
dois fundamentos, se usarmos apenas um, a casa cai.
No que se refere às coisas sacrificadas a ídolos, reconhecemos que
todos somos senhores do saber. O saber
ensoberbece, mas o amor edifica. 8.1.
Todos temos conhecimento em um
certo sentido, e todos temos uma opinião, através do conhecimento que temos.
Nossas opiniões, pensamentos, posturas a atitudes vem deste conhecimento que
temos sobre alguma coisa.
Existiam aqueles que achavam que
comer carne sacrificada ao ídolo não significava nada. E eles faziam isso
baseado no conhecimento que eles tinham, a respeito deste assunto. E existiam
aqueles que achavam não deveriam comer, também baseado no conhecimento que eles
tinham a esse respeito.
Existe gente que acha que mulher
usar calça não há problema, e faz isso baseado no conhecimento que tem do
assunto. E existe gente que acha que mulher não pode usar calça, e faz isso
baseado no conhecimento que tem sobre esse assunto.
E qual é o problema? O saber
ensoberbece! Nos deixa inchados, e inflados. A sabedoria não serve para
resolver os limites da liberdade cristã. O equilíbrio encontra-se no amor, que
edifica. Um cristão deve começar com amor. Ele só consegue edificar sua vida
espiritual sobre o fundamento do amor. O conhecimento sem o amor envaidece. O
amor nunca é arrogante (13.4), mas sempre construtivo. Por inferência, o
conhecimento que se subordina ao amor torna-se útil.[9]
O conhecimento segrega, cria
grupos e partidos, e neste sentido, incluímos uns e deixamos outros de fora.
Ora não foi exatamente este o problema da igreja de corinto que Paulo muito
criticou no início desta carta (1Co. 1.12-13)?. Já o amor acolhe, suporta,
inclui e edifica.
Se alguém julga saber alguma coisa, com efeito, não aprendeu ainda como
convém saber. 8.2. A palavra saber
aqui é gnosis que é melhor traduzida por conhecimento, ou conhecer. Quem acha
que sabe tudo, é prova de que não sabe usar o conhecimento que tem. Gente que é
dona da razão. Gente que é guiada pela sua razão, e não leva o amor ao outro em
consideração. E este é um argumento preparatório para uma afirmação muito forte
que Paulo fará no próximo verso. Pois se você usa do seu conhecimento para
oprimir o seu irmão, não levando em conta o amor. Será que você conhece mesmo a
Deus? pois se o saber que você julga ter, não te leva a conhecer a Deus (Jr. 9.
23, 24), logo você ainda não sabe como convém saber.
Sem conhecer a Deus, não há como
saber o básico de como ele opera sua salvação das mais diversas formas; dando
ao corpo de Cristo que é a igreja através dos dons as mais diversas formas
(1Pd. 4.10). Sem conhecer a Deus teremos dificuldades de entender sua operação diferente
na vida de outras pessoas, e usaremos nosso arrogante conhecimento para definir
aquilo que ele não definiu, ou definiu diferente. O conhecimento por si só é
sempre um ídolo, que tenta escravizar Deus a nossa vontade. Por isso aquele que
julga ter conhecimento, e faz isso à parte de Deus, na verdade não conhece
coisa alguma.
Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido por ele. 8.3. Ou seja, o ponto de Paulo aqui é: seja o irmão
mais liberal, seja o mais conservador, no final o que importa mesmo é: ele é
salvo? Você é salvo? Porque, se você não pode amar o irmão que vê, como pode
dizer que ama a Deus que não vê?
A pergunta que você deve fazer
com relação a seu irmão, se ele está certo ou não agindo de modo que você não
concorda é: Essa pessoa ama a Deus? Se sim, então Deus o conhece. Eu posso
discordar do modo ou costume de alguém, mas o ponto é: essa pessoa tem as
evidencias da salvação, do amor, da graça, da piedade? Tem os frutos do
Espírito Santo? O amor me fará ver que existem coisas que eu não entendo
(conhecimento), mas são evidentes e irrefutáveis; e é a prova da multiforme
graça de Deus.
Pois também pode acontecer o
contrário. De existir alguém que vive e se porta da maneira como penso de deve
ser, segundo meu conhecimento, porém não há evidencia nenhuma de que é amado
por Deus. Nunca foi salvo ou regenerado, como por exemplo, o fariseu Nicodemos,
que apesar de viver uma vida rigorosamente piedosa com orações diárias, estudo
das escrituras, jejuns e portar-se de modo rigoroso, todavia não era salvo,
pois necessário era que nascesse de novo.
O que devo considerar antes de
tudo na vida do outro é este fato: se ele é conhecido de Deus. Isso quer dizer,
se ele é salvo, se Deus o conheceu no passado e ele permanece assim, salvo.
Antes de procurar julgar o outro pelo que ele usa ou faz (isso com relação a
coisas que a bíblia não é clara), preciso procurar pela evidencia de sua
eleição. Pois se Deus o recebe assim, quem sou eu para despreza-lo?
Conclusão
Existem portanto questões que não
são centrais para a fé cristã. Questões que não são claras, são indiferentes e
que por isso não são nem morais e nem imorais, mas que todavia trazem grandes
inquietações a vida comunitária da igreja, e que portanto não podem ser
ignoradas, mas também não devem ocupar lugar de destaque na nossa peregrinação
neste mundo.
Sempre existiram na igreja
pessoas que pensam diferentes sobre estes assuntos da liberdade cristã. E
portanto devemos lidar com eles com humildade de espirito e não com espírito de
arrogante conhecimento. Entendendo que aos nossos olhos sempre estaremos certos
em nossa razão e o outro errado. E isso não pode ser assim.
Devemos lidar com essas questões
procurando conhecer a Deus, e os diversos modos de sua operação para salvação,
e amando e acolhendo aqueles que ele acrescenta ao corpo da igreja. Devemos
verificar os frutos da salvação, e não dos modos e costumes pois esses não são
centrais e passam. Pois se um irmão tem evidencia de salvação, e novo
nascimento, e usa de costumes que julgo errados, mesmo sendo estes indiferentes
nas escrituras. Então Deus joga por terra meu conhecimento e me mostra que sou
um tolo.
Conhecimento e amor devem ser a
base da nossa liberdade em Cristo e de uns com os outros. Quando existe apenas
conhecimento, o legalismo impera. Quando existe apenas amor, onde tudo é
tolerado, (e neste caso já deixou de ser amor) a libertinagem impera.
A IMUTABILIDADE DE DEUS
Portanto, em relação ao alimento sacrificado aos
ídolos, sabemos que o ídolo não significa nada no mundo e que só existe um
Deus. 8.4
Depois de lançado os fundamentos,
Paulo agora passa as coisas práticas da nossa liberdade. E sua primeira
afirmação é: Coisas não mudam quem Deus é! O fato de existirem vários deuses no
mundo, não muda em nada o fato de que existe apenas um Deus. E o fato de coisas
não mudarem quem Deus é, serve de alerta tanto para os mais conservadores,
quanto para os mais liberais. Ou seja, Deus não age segundo nosso ponto de
vista. No passado muitas pessoas achavam que ver televisão era pecado. Isso não
mudou Deus no passado e nem o muda hoje.
Mas também no passado fornicação era pecado, e hoje está sendo
normalizado, mas Deus não mudou. O equilíbrio da sua liberdade passa pelo temor
do Senhor. Liberdade sem temor é irresponsabilidade e loucura.
Isso significa que posso adorar o
ídolo, porque afinal ele nada é e só existe um Deus? Não! Porque neste caso
você resolveu o problema com relação ao ídolo que nada é, mas e Deus? Você
precisa leva-lo em consideração!
Este foi exatamente o problema de
Salomão. Ele entendeu certo, os ídolos das suas mulheres não eram deuses, e ele
sabia disso. O problema é que essa lógica de Salomão entrava em rota de colisão
com outra. O fato de que Deus é Deus, e quando o sentido da sua vida deixa de
ser o próprio Deus, isso se torna idolatria. O foco não pode estar na roupa, na
joia, na tatuagem, nisto ou naquilo. Isso nada é! Mas diante de tudo isto
precisa haver o temor do Senhor que é!
Sem o temor do Senhor, essas
coisas ou a ausência delas, o homem permanece na mesma condição: morto em
delitos e pecados!
A CENTRALIDADE DE DEUS NA NOSSA
LIBERDADE
Pois, ainda que haja também alguns que se chamem
deuses, quer no céu quer na terra (como há muitos deuses e muitos senhores), todavia para nós há um só Deus, o
Pai, de quem são todas as coisas e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus
Cristo, pelo qual existem todas as coisas, e por ele nós também.
A questão é: para o que você
vive? No verso 6, Paulo nos chama atenção para alguns fatos importantes:
Primeiro. Todas as coisas são
criadas por Deus (todavia para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas). Tudo vem dele, tudo é para a gloria do seu
louvor. Aqui vale a pena ressaltar uma atitude muitas vezes vista na igreja que
é uma separação entre “coisas de Deus” e “coisas do mundo”. Como se Deus se
limitasse a operar apenas na esfera da igreja. Isso é um erro grave. Todas as
coisas são de Deus e estão debaixo da sua autoridade e poder. O fato da criação
inteira ter sido afetada pelo pecado, não significa que Deus foi destituído de
seu governo. Pelo contrário, quem foi expulso foi o ser humano e não Deus.
Portanto aquilo que é belo,
gracioso, que não ofende, nem é imoral, nem ilegal seja onde for, o cristão
pode desfruta-lo. Ora quem dá a capacidade a um pintor de criar uma bela arte?
Quem dá inspiração ao compositor para compor canções belíssimas? Como pode ser
mal visto tomar banho na praia, quando quem a criou, a fez para esse prazer? Quem
deu à mulher a beleza? Quem estabeleceu a política, a sociologia, a arte, a
tecnologia e todas as outras coisas que elevam o espírito? Essas coisas nas
medidas certas me são licitas. É claro que o pecado atingiu todas as nossas
faculdade e capacidades, mas isso não significa que temos que nos abster de
tudo e considerar tudo pecaminoso, pois se for assim consideraremos Deus o
autor de todo mal.
Tudo isso nos é licito, mas vejam
o princípio que Paulo aqui aplica: Nós não existimos para as coisas e sim para
o próprio Deus. Uma bela música, é fruto da graça de Deus, mas nós não devemos
viver para a música e sim para Deus. Tudo o que foi criado no mundo vem de
Deus, mas nem tudo está em Deus. Eu posso apreciar essas coisas, mas não posso
permanecer nelas e sim em Deus. Isso é liberdade!
Segundo. “...e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas.” Todas
as coisas pertencem e estão debaixo da autoridade de um só Senhor. Cristo tem
autoridade sobre as coisas, ele é o único Senhor de tudo. Porque não comemos
carne de porco? Porque o Senhor de tudo disse: não coma! Nós não servimos as
coisas, e sim a Cristo. Nele vivemos, nos movemos e existimos. Nele, por ele!
Não nas coisas, não pelas coisas.
Não existe um centímetro quadrado neste universo, onde Cristo não seja Senhor e dono. Quem é você no ambiente em
que está? No seu trabalho você é cristão? Alguém te reconhece como cristão
quando você vai à praia? Em um casamento de não crentes, você também vira um
não crente? O problema não é o lugar, ou as coisas, e sim você!
O uso de alguma coisa não te
define, mas você define o uso de qualquer coisa. O lugar, ou a situação não te
define, mas você define o ambiente onde você está! O sal é você, e se você não
está causando o efeito que deve causar, você é um inútil!
DEFININDO O FRACO
Entretanto, não Há esse conhecimento em todos; porque alguns, por
efeito da familiaridade até agora com o ídolo, ainda comem dessas coisas como a
ele sacrificadas; e a consciência destes, por ser fraca, vem a
contaminar-se. 1Co 8:7
O apostolo começa este verso
afirmando que esse conhecimento que acabei de explicar não existe em todos. Nem
todos tem a mesma maturidade, o mesmo tempo de fé e o mesmo grau de acesso e de
informação da revelação da palavra de Deus, e isso é natural na igreja quanto
comunidade. E ele dá um exemplo, dizendo que, existem crentes tão acostumadas
com os ídolos, que até agora comem desses alimentos, pensando que eles pertencem
aos ídolos. A consciência dessas pessoas é fraca, e por isso elas se sentem
impuras quando comem desses alimentos. Ou seja, elas ainda não entenderam que o
ídolo nada é, e portanto consideram que, quem come carne que foi sacrificada
aos ídolos, é o mesmo que adora-lo. Ora tal irmão deve ser considerado não
salvo por pensar assim? Claro que não, ele é salvo, porem sua fé é fraca neste
sentido. E mesmo sua fraqueza não deve ser desprezada, mas levada em
consideração, por causa daquele que o salvou.
Um exemplo oposto a este também deve ser
levado em consideração. O exemplo de alguém que salvo e regenerado, mas porem
come de tudo sem nada discernir e sem temor. Em todo ambiente e situação uma
vez que entendeu que o ídolo nada é, ele acaba extrapolando os limites da sua
liberdade e passa a viver uma vida que não o diferencia em nada da vida que
tinha antes de vir a Cristo, fazendo de Cristo apenas mais um ídolo aos olhos
dos ímpios. Este também peca por sua fraqueza na fé.
Antes de continuarmos na
exposição deste verso, creio que seja necessário explicar o conceito de fraco
ao qual Paulo se refere. Em Romanos 14.1 Paulo trata do mesmo assunto que aqui,
e lá sua orientação é que o fraco na fé deve ser acolhido. Mas quem é esse
fraco na fé? Primeiro é bom lembrar que Paulo não se refere a este individuo
como “fraco de fé” e sim “fraco na fé”. Isso quer dizer que tal crente, foi
salvo e alcançado pela graça de Deus, ele é genuinamente salvo, porém ainda
fraco nesta salvação.
É o caso de muitos que se
convertem, mas ainda permanece em práticas e vícios que são familiares com sua
vida outrora de perdido. Ainda são bebes na fé, sem o discernimento próprio da
maturidade cristã. Ou também o caso daqueles que por sua natureza extremamente
zelosa, passam a viver de uma forma legalista procurando a justificação pelas
obras. Adotam um estilo de vida essênio, procurando sempre a auto justificação
diante de Deus. Sua fraqueza está no fato de não entender que já foi aceito por
Deus pela fé em Cristo, e por isso procura sempre se justificar por si mesmo. Porem
tanto um quanto o outro foram salvos. E é aqui que pecamos contra a comunhão,
pelo fato de não discernirmos a salvação no que é fraco na fé.
Precisamos aceitar que na igreja
sempre haverá o grupo dos fracos na fé, como também dos fortes. E isso é
importante que assim seja, a igreja é composta de pessoas diferentes.
Precisamos entender também que ser cristão não é algo magico, no sentido de que
todos recebem a mesma intensidade de luz do Espírito Santo na conversão, não!
Nós não temos todos as mesmas condições, por isso as porções da luz do Espírito
Santo é diferente para cada um, e isso digo com respeito a maturidade e
crescimento espiritual. O que recebemos igual a todos, é a obra de
convencimento do Espírito Santo para salvação, essa sim é a mesma, somos todos
convencidos do pecado da justiça e do juízo, isso nos leva ao arrependimento,
confissão e a fé, e então nascemos de novo. Mas o desenvolvimento desta
salvação é diferente em cada um, sendo a regra para todos o temor e tremor (Fl 2.12).
LIDANDO COM COISAS INDIFERENTES
Não é a comida que nos recomendará a Deus, pois nada perderemos, se não
comermos, e nada ganharemos, se comermos. 1Co 8:8
Ou seja, comer carne é algo
amoral. Eu não sou salvo por deixar de comer carne, e nem se comer. Comer carne
é algo amoral. Não é nem imoral e nem moral. Então este é um importante ponto
que você deve considerar; o que você pretende usar ou fazer é legal ou
proibido? É imoral, moral ou amoral?
Porem existe um outro detalhe,
dependendo de certas circunstâncias comer carne poderia tornar-se imoral. Por
exemplo, se você for a Bahia, você pode comer acarajé? Bom comer o acarajé em
si não é pecado, ainda que seja de uma baiana vestida de mãe de santo (vai da
sua consciência), mas o acarajé em si, não é nem imoral e nem moral. Mas quando
se torna imoral? É se quando você for comer, a tal mulher lhe disser: olha este
acarajé, foi oferecido aos Orixás! Porque isso se torna um problema? pelo fato
de que, comer do acarajé passou de um simples ato de comer, para um ato de
culto aos Orixás.
Outro exemplo chupar bala no dia
de Cosme e Damião é moral ou imoral? Para o cristão é imoral pois ele sabe que
aquelas balas foram oferecidas a demonios. Mas se passa um mês, e o devoto está
com um monte de bala que foi oferecida também a Cosme e Damião, e ele distribui
isso, e você pega e come, não sabendo, isso é amoral. Você está inocente quanto
a isso, e não vai te acontecer nada, por que diante de Deus você não sabe, e o
ídolo nada é. Isso é liberdade cristã!
Mas você pode questionar: bom, as
balas foram oferecidas como forma de culto de qualquer maneira. Neste sentido, mesmo
eu não sabendo, não estaria adorando ao ídolo da mesma maneira? Logico que não!
Todo culto, tem sempre o mesmo sentido que é a Deus. O culto ao ídolo é um
pecado, não por causa do ídolo em si (ele nada é) que é adorado como se fosse
Deus; mas sim porque o culto não está atingindo seu único propósito, que é de
glorificar a Deus. E neste sentido então, se o indivíduo não tem conhecimento
de que ao consumir alguma coisa que foi oferecida ao ídolo como forma de culto,
logo diante de Deus ele está inocente.
Outro exemplo: ouvir “aguas de
março” de Tom Jobim e Elis Regina é moral ou imoral? Como saber? Ora do que
fala a letra da canção? Ouvir “Vai malandra” da Anita é moral ou imoral? Ouça a
letra, e você verá que além de imoral, e de péssimo mal gosto. Ir no show do
Tom Jobim não é a mesma coisa de ir no show da Anita. Em um é arte, no outro é
culto a sensualidade. Um exemplo disso são as músicas das cerimonias de
casamento, e digo isso para não cairmos em hipocrisia. Não usamos músicas do
HBJ, e sim músicas na maioria das vezes seculares, e nem por isso ofendem a
dignidade da cerimonia e nem a impetração da benção de Deus, pois suas letras,
melodias e harmonia condizem com o momento.
Aí você precisa continuar
colocando essas coisas no crivo das escrituras: você pode? Pode, você é livre!
Você deve? Tem o dever de fazer, é obrigado? Não. Convém que você vá? Agora se
você é adolescente, criança, jovem e está debaixo da tutela dos seus pais,
ainda que a bíblia te permita, mas seus pais não, você deve obedece-los. Pois a
bíblia te permite a fazer, porem ela da autoridade a seus pais para ordena-lo.
E ordem e mandamento é uma coisa permissão é outra.
Na mesmíssima linha segue a
igreja. Existem coisas que a bíblia não proíbe, mas a igreja sim. Porque? Por
que a igreja é uma sociedade de pessoas diferentes, que pensam diferentes e
precisam de uma definição comum para todos. Senão vira bagunça! Durante algum
tempo a igreja considerou, pelo bem da comunhão geral dos cristãos, que mulher
usar calça era imoral, e proibiu o seu uso. O tempo passou e isso nos dias de
hoje não é um problema para a maioria e para a cultura cristã. Isso quer dizer
que a igreja hoje está em pecado? De jeito nenhum! Onde a bíblia diz que calça
é roupa de homem e não de mulher? Usar calça é amoral, mas existem uso de calça
que se torna imoral. E existe calça de homem e calça de mulher.
Então você que olha para
determinada coisa e gostaria de usar, e inteligente entende com temor de Deus
que com relação a isso a bíblia não proíbe, mas a igreja sim; tenha paciência, pois
você não é uma ilha, mas como salvo, você faz parte de uma comunidade de Jesus.
Existem outros irmãos que você deve considerar. Tudo tem seu tempo, e você
precisa ter domínio próprio sobre suas paixões e desejos. Se a igreja toma
decisões restritivas, é por entender que isso faz mais bem a comunidade do que
mal. Então cuidado com a desobediência, pois Deus deu a igreja autoridades.
E você irmão, que é mais
conservador, quando a igreja rever aquilo que antes ela restringia, e hoje não
restringe mais; você não é obrigado a fazer uso destas coisas, apenas livre se
quiser fazer ou não. Guarde seu coração e sirva ao Senhor da melhor maneira que
você puder, mas cuidado com a murmuração, a tristeza e o desamor.
Então existem coisas que ainda
que não estejam claras de como devemos proceder biblicamente, isso não quer
dizer que eu tenho que logo fazer uso delas porque não são proibidas, mas você
deve tomar cuidado pois elas podem passar a ser dependendo da circunstância. Ou
seja, você é sim livre para faze-las, mas considere outros aspectos:
Havia três lugares onde se
encontrava carne sacrificada aos ídolos em Corinto. Nesses lugares os crentes
precisavam se acautelar. Quais eram esses lugares?
O próprio templo dos ídolos
(8.10). Paulo argumenta: “Porque, se
alguém te vir a ti, que és dotado de saber, à mesa, em templo de ídolo, não
será a consciência do que é fraco induzida a participar de comidas sacrificadas
a ídolos?” A carne que era sacrificada nesse templo pagão era dividida em
três partes. Uma parte era sacrificada no altar desse templo pagão, a um ídolo
pagão. A outra parte ficava com o sacerdote pagão e a terceira parte da carne
era entregue ao adorador do ídolo. Esse adorador nem sempre consumia toda essa
carne. Parte dela, ele a vendia para o mercado, para os açougues públicos, e o
restante ele levava para a sua casa.
Certamente, Paulo está dizendo,
que os crentes não deviam comer carne sacrificada aos ídolos nos templos de ídolos.
Comer carne, que é um ato amoral, nesse contexto, se torna imoral. Comer carne
é lícito, mas comer carne em templo de ídolo nao convém. Tomar guaraná é
amoral, tomar guaraná no bar se torna imoral. Porque? Por causa do exemplo que
Paulo dá. Se alguém te vir tomando guaraná no bar, como saberá que não é uma cerveja?
E se ele for fraco pensará que você está bebendo e pensará que também poderá
beber. Ainda que tomar guaraná no bar não seja pecado, você poderá está
induzindo o fraco na fé a bebedeira, o que é claramente pecado na bíblia.
Ademais comer carne no templo do
ídolo, fazia parte do rito de culto ao ídolo. Se o cristão que se considerava
forte na fé porque sabia que o ídolo nada é, e por causa deste argumento
participasse de um churrasco no templo do ídolo, e um recém convertido, que
antes era adorador do mesmo ídolo o visse assim fazendo, o que ele pensaria?
Logicamente que afinal não havia diferença entre Cristo e o ídolo. Pois ele não
iria entender que era apenas comer carne, e sim adoração ao ídolo.
A casa dos amigos idólatras
(10.27,28). “Se algum dentre os
incrédulos vos convidar, e quiserdes ir, comei de tudo o que for posto diante
de vós, sem nada perguntardes por motivo de consciência. Porém, se alguém vos
disser: Isto é coisa sacrificada a ídolo, não comais, por causa daquele que vos
advertiu e por causa da consciência” (10.27,28).
Algumas pessoas traziam a carne
para casa depois do sacrifício e convidavam seus amigos para comer. A festa não
transcorria na frente do ídolo, mas a carne servida era a mesma oferecida ao
ídolo lá no templo pagão. O que o crente deveria fazer neste caso: comer ou não
comer? Paulo orienta que se o crente viesse a saber que a carne havia sido
sacrificada, não deveria comer. Porém, se não soubesse, não havia problema em
comer.
Um exemplo prático. Quando eu ia
na casa dos meus parentes em Rondônia, eu não ficava perguntando se aquela
comida era feita com óleo de soja ou banha de porco. Mas meus parentes em
respeito a mim e minha família, sempre quando íamos, nos avisavam olha este
arroz nós fizemos com óleo de soja, esse não. Mas se eles não falassem nada,
com fome que eu não ia ficar. Sabemos que tem alimento que o Senhor nos
proibiu, porem quando eu não tenho essa informação, minha consciência está em
paz.
Nos mercados públicos (10.25).
Paulo aconselha: Comei de tudo o que se
vende no mercado, sem nada perguntardes por motivo de consciência” (10.25).
Tanto os sacerdotes quanto os adoradores costumavam vender a carne que sobrava
dos sacrifícios para os açougueiros. Mas como saber qual carne do açougue tinha
ou não sido oferecido no templo? Era impossível saber! Tem gente que não compra
sabão em pó da marca surf, porque
disseram que o dono da empresa era satanista. Ora e dai, eu não compro porque a
esposa diz que ele é muito ruim. Se fosse assim deveriam conhecer a vida de
todos os acionistas da Johnson e Johnson,
donos da marca Omo, e ninguém faz
isso. Liberdade cristã, é saber que essas coisas não podem nos separar do amor
de Cristo Jesus nosso Senhor.
Na igreja de Corinto formaram-se
dois grupos opostos. Que grupos eram esses?
Os abstinentes e legalistas.
Algumas pessoas, que Paulo identifica como os de consciência mais fraca,
diziam: “Nós não podemos comer carne em hipótese nenhuma, pois corremos o grave
risco de comer carne sacrificada aos ídolos”. Para nao correr riscos, eles
decidiram cortar a carne do cardápio. Tornaram-se vegetarianos para não caírem
no perigo de comer carne sacrificada aos ídolos. Os crentes fracos eram aqueles
que eram regidos pelo zelo, mas sem entendimento.
Os permissivos e libertinos.
Paulo os chama de fortes. Eles diziam: “Não! O ídolo é nada! Não passa de um
pedaço de barro ou madeira e ele não tem valor algum, vamos comer carne a
valer! Não importa o lugar ou a circunstância, vamos comer carne sem qualquer
drama de consciência”. Os crentes fortes, eram aqueles que eram regidos pelo
conhecimento. Eles haviam compreendido corretamente que o ídolo não é um Deus
e, portanto, comer carne que foi oferecida aos ídolos não significava nada. Mas
tem um problema com esse pensamento. O ídolo realmente não é nada, mas o problema
é quem está por trás do ídolo, que são demonios, e a bíblia é clara: Não podeis beber do cálice do Senhor e do
cálice de demônios; não podeis participar da mesa do Senhor e da mesa de
demônios. 1Co 10:21
Esses dois grupos feriram a
comunhão da igreja! A igreja se dividiu: Uns achando que não podiam comer carne
de maneira nenhuma; outros achando que podiam comer em qualquer circunstância.
E, assim, a igreja mais uma vez sofreu um abalo da quebra de comunhão.
Paulo chama os dois grupos de
fracos e fortes. O grupo que Paulo batizou de fracos, os que se abstinham
totalmente de comer carne, chamava o grupo denominado de fortes, que comiam
carne em quaisquer circunstâncias, de crentes mundanos. E esses fortes chamavam
os abstinentes, os fracos, de fanáticos, pessoas sem entendimento da verdade.
Os dois grupos têm coisas boas e
coisas ruins. O ideal é haver um complemento do dois; zelo e conhecimento. E
havia uma coisa que faltava aos dois grupos: amor. Zelo sem amor, é falsa
humildade! Conhecimento sem amor é arrogância.
CONCLUSÃO
Você que é zeloso, continue
sendo, mas aprenda a ser humilde e a amar seu irmão, ainda que ele não aja de
um jeito que você não entende ou aprova, e ele procurará você para ter o
equilíbrio que precisa.
Você que tem conhecimento, e entende
que algumas coisas realmente são irrelevantes, e realmente são; entenda que
conhecimento não é o mesmo que sabedoria. Que o conhecimento ensoberbece, ou
seja, te deixa inchado com um balão, mas o amor edifica.
O fiel da balança do equilíbrio,
é o amor.
Lembra-te de mim o Deus, para o meu bem.
[1] M.
L. Jones – Coment. Romanos Vol. 14 – Pg 22
[2]
Hernandes D. Lopes – Comentarios Hagnos 1 Corintios – Pg 147
[3]
Idem
[4] M.
L. Jones – Coment. Romanos Vol. 14 – Pg 40, 41
[5] Hernandes
D. Lopes – Comentarios Hagnos 1 Corintios – Pg 147
[6] Idem
[7]
Coment. N.T – 1Corintios - Simon J. Kistemaker – Editora cultura Cristã –Pg 368
[8]
Idem
[9]
Coment. N.T – 1Corintios - Simon J. Kistemaker – Editora cultura Cristã –Pg 369
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